2008 - centenário de morte de Machado de Assis
As letras abriram-lhe ao mundo.
As letras fizeram-no universal.
poemas escolhidos pelo autor, Nelson Ricardo Cândido dos Santos, escritos já no século XXI
Eu brincava de esconde-esconde
e não sabia dos porões da ditadura;
divertia-me no trepa-trepa
e desconhecia o que era pau-de-arara;
a tarde era para o agacha-agacha
e para mim não existiam humilhados;
fazia com amigos uma roda, girando para cá e para lá,
enquanto havia tantos perseguidos;
andava livre pelas ruas do meu bairro
sem sequer ouvir falar de prisioneiros e torturados e exilados.
Eu crescia livre qual o trigo pelo campo,
ignorando tantas vidas desterradas
ou taxadas como joio e ceifadas.
Cresci sentindo-me amado e protegido.
Hoje sinto que também alienado.
As nuvens,
como amantes apaixonados,
debruçam-se e beijam
cada curva das montanhas de Tinguá.