EU BRINCAVA DE ESCONDE-ESCONDE



Eu brincava de esconde-esconde

e não sabia dos porões da ditadura;

divertia-me no trepa-trepa

e desconhecia o que era pau-de-arara;

a tarde era para o agacha-agacha

e para mim não existiam humilhados;

fazia com amigos uma roda, girando para cá e para lá,

enquanto havia tantos perseguidos;

andava livre pelas ruas do meu bairro

sem sequer ouvir falar de prisioneiros e torturados e exilados.

Eu crescia livre qual o trigo pelo campo,

ignorando tantas vidas desterradas

ou taxadas como joio e ceifadas.

Cresci sentindo-me amado e protegido.

Hoje sinto que também alienado.


Um comentário:

Riku Resen disse...

Pois é... Mas eu acho que crescer assim é o natural de uma criança... Não se pode querer arrancar dela a tão linda inocência que a caracteriza...